Drones são considerados por muitos como uma das tecnologias mais inovadoras na agricultura. No entanto, vale ressaltar que esses são, na verdade, veículos, dos quais grande parte da inovação se encontra naquilo em que eles carregam.
Drone é o termo utilizado no dia-a-dia para designar os veículos aéreos não-tripulados, ou seja, remotamente pilotados. Por ser um veículo, a funcionalidade desta ferramenta depende de acessórios acoplados ao mesmo, que podem ser, no caso da agricultura, sensores, pulverizadores ou dispensers (liberadores) de inimigos naturais.
Quanto à maneira utilizada para sobrevoar, esses veículos aéreos podem ser classificados em duas categorias: os de asa fixa (figura A), e os multirotores (Figura B). Cada um deles tem suas próprias vantagens e limitações, e ambos podem ser utilizados na agricultura, de modo que a escolha por um ou outro depende dos objetivos que se deseja alcançar.
Os drones de asas fixas geralmente são utilizados em áreas maiores, voando a grandes altitudes, tendo como vantagem essa maior cobertura de área em um menor período. Por sua vez, os drones de asa rotativa permitem manobras rápidas e precisas, sendo ideais para monitoramento de áreas menores e irregulares, além de serem os mais indicados para operações como pulverização e liberação de inimigos naturais.
(Figura A)Drone DJI Phantom 4 PRO V2.0. fonte: DJI
(Figura B) Drone Sensefly Ebee,Fonte:Sensefly
Mesmo com os muitos anos de pesquisa dedicados ao desenvolvimento da tecnologia de utilização dos inimigos naturais em programas de controle biológico em grandes áreas no Brasil, faltava ainda uma peça para encaixar no quebra-cabeças e expandir exponencialmente a utilização do controle biológico. Essa “peça” era justamente o uso de drones e dispensers para liberação desses inimigos naturais. Antes dessa tecnologia, a distribuição dos inimigos naturais era feita, principalmente, por colaboradores que caminhavam pela lavoura, liberando recipientes com os inimigos naturais.
Com o avanço do uso dos dispensers acoplados a drones, a área total de lavouras que utilizam essa ferramenta de controle aumentou significativamente. O Brasil é hoje líder mundial na tecnologia de liberação de inimigos naturais com drones, sendo que nosso conhecimento técnico já é exportado e utilizado em outros países, como os demais da América do Sul, por exemplo. No nosso país, esses equipamentos são utilizados em milhões de hectares de culturas extensivas, como cana-de-açúcar, soja, milho, algodão e florestas cultivadas.
Dentre os principais agentes de controle utilizados nessas liberações, destacam-se os parasitóides:
Trichogramma pretiosum, utilizado em lavouras de grãos para controle dos ovos de mariposas, que dariam origem a lagartas que atacam a cultura;
Trichogramma galloi, utilizado em lavouras de cana-de-açúcar para controle dos ovos da broca-da-cana;
Cotesia flavipes, utilizado em lavouras de cana-de-açúcar para controle da fase larval da broca-da-cana;-
Telenomuspodisi, utilizado em lavouras de soja para controle dos ovos de percevejos.
Além dos parasitóides, existem relatos de utilização de drones na liberação de predadores, como crisopídeos, por exemplo.
Drone DJI Phantom com dispenser liberando Trichogramma galloi em canavial
Vista em detalhe da liberação de ovos parasitados de onde irão emergir as vespas Trichogramma galloi. Fotos: Fernando Iost
Quanto à pulverização, pensando na integração de táticas de manejo, os drones podem ser utilizados para aplicações tanto de defensivos químicos, quanto microbiológicos. Vale lembrar que aplicações com drones têm sido direcionadas para situações específicas, como áreas com declividade que impede pulverização tratorizada, culturas de alto valor agregado, ou aplicações localizadas em áreas extensas. Ainda, em cultivos em que a entrada de pulverizador tratorizado é dificultada pela altura da planta e, as áreas não são extensas o suficiente para comportar pulverização aérea com avião, há a possibilidade de uso dos drones de pulverização.
Assim, levando em conta o rendimento em termos de hectare/hora, essa tecnologia não é considerada uma substituta às operações com pulverizadores autopropelidos, que tem rendimento em hectares/hora muito superior. No entanto, considerando-se o fato de não transitar com máquinas na lavoura, evitando perdas por amassamento e reduzindo a compactação, muitos produtores já têm adotado a pulverização com drone em área total e observado incremento em produtividade.
Em relação à qualidade da operação, uma das preocupações recorrentes é a deriva na aplicação aérea. Para superar este desafio, têm-se utilizado pontas de pulverização com vazão maior que, somado ao efeito de vórtex criado pelas hélices durante o voo, fazem com que a deriva seja menor. Além disso, devem ser observadas as condições climáticas ideais para a operação, sendo evitados os momentos de ventos mais fortes.
Por fim, pode-se esperar um aumento expressivo na utilização de drones para pulverização e liberação de inimigos naturais nas lavouras brasileiras, conforme previsto por muitas pesquisas de mercado focadas nesse assunto. O produtor rural está aberto a receber essa tecnologia e, desafios técnicos como o tempo de voo e a capacidade de carga têm sido constantemente melhorados pela indústria.
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