Spodoptera frugiperda popularmente conhecida como lagarta militar ou lagarta do cartucho é a principal praga do cultivo de milho. No entanto, sua importância nos cultivos de algodão e soja têm crescido ao longo dos anos, devido ao grau de perdas que pode causar e por apresentar resistência a muitos inseticidas. Sua ocorrência abrange quase todo o continente americano e já foi registrada em países da África, Ásia e Europa. No Brasil, ocorre em todo o território e já foi registrada atacando mais de 100 espécies de plantas. A Spodoptera frugiperda Causa danos econômicos e prejuízos em uma média entre 20% e 22% no rendimento da safra, podendo chegar até 40% dependendo do nível de ataque.
Devido a agressividade da praga e o alto potencial de dano, o manejo de S. frugiperda tem se tornado um grande desafio. Neste artigo, vamos falar sobre as principais características desta praga, principais danos nos cultivos de milho, soja e algodão e quais os métodos para realizar um controle eficaz.
Conhecendo a espécie
Para identificar a presença de S. frugiperda no campo é fundamental conhecer suas principais características. A espécie coloca os ovos em massa, principalmente na fase inferior da folha e essas posturas podem apresentar várias camadas. Após a eclosão as lagartas produzem uma espécie de “teia”, que permite seu deslocamento e dispersão entre as plantas. O inseto apresenta coloração marrom esverdeada, com quatro pontuações escuras no final do abdômen e cabeça com um “Y” invertido mais claro. Apresentam hábito noturno e durante o dia podem ser encontradas se abrigando em baixo das folhas ou nos entrenós.
As condições ideais para o desenvolvimento de S. frugiperda são períodos secos, temperaturas diurnas elevadas e temperaturas noturnas amenas. Os primeiros sintomas de ataque são raspagens nas folhas, que podem evoluir para lesões maiores, chegando ao perfuramento total do tecido vegetal. Vamos explicar melhor como estes danos ocorrem em milho, soja e algodão logo a seguir.
Danos no milho
Após a raspagem inicial feita por lagartas mais jovens, estas migram para o interior do cartucho da planta, onde ficam protegidas de agentes externos, dificultando inclusive o manejo e controle da praga. É comum encontrar apenas uma lagarta no cartucho, devido ao seu hábito canibal¹. No milho, atacam diretamente as plântulas; perfuram a base da planta; danificam as folhas e a capacidade fotossintética; destroem o cartucho; causam danos diretos as espigas. Ao destruírem o cartucho, principalmente no início do florescimento, podem causar danos expressivos da produtividade dos grãos. Os períodos críticos de incidência de S. frugiperda em milho vão de outubro a janeiro. Também ocorrem na segunda safra, com aumento da ocorrência principalmente em períodos de baixa precipitação.
Danos no soja
Na soja, a incidência de S. frugiperda ocorre durante todo o ciclo de desenvolvimento da cultura. Pode ser identificada logo após a germinação, se alimentando de plantas recém emergidas, o que pode causar corte de plantas e tombamento. Quando o ataque o ocorre a partir do V2 (planta com segundo nó), o ataque da lagarta causa desfolha acentuada, danos em cotilédones, corte dos ponteiros e prejudica severamente seu desenvolvimento. Quando o desenvolvimento da planta está mais avançado pode ocorrer desfolha intensa, destruição de botões florais e ataque de vagens, reduzindo drasticamente a produtividade.
Danos no algodão
Nas plantas de algodão, o ataque pode ser identificado nas folhas, brácteas, flores e maçã do algodoeiro e quando seu ataque ocorre no reprodutivo pode elevar os prejuízos por danos diretos a produtividade. Nas folhas os principais danos estão relacionados ao perfuração e redução da capacidade fotossintética. Podem destruir totalmente os botões florais e reduzir drasticamente a formação das fibras. De forma geral, os ataques ocorrem na parte mediana até o ponteiro, e o período mais crítico vai do início do florescimento ao surgimento do primeiro capulho.
Monitorar, monitorar, monitorar!
O monitoramento é a melhor forma de controle. Quando conhecemos a incidência da praga e sua rotatividade entre os cultivos, o controle fica muito mais assertivo. Como S. frugiperda é uma praga polífaga, consegue se manter por várias gerações no sistema ponte verde (cultivos sucessivos), por isso manter o monitoramento durante toda a safra é fundamental.
No milho, o monitoramento é realizado principalmente por avaliação visual a partir da avaliação dos danos provocados pela praga na lavoura. Os danos são avaliados segundo a escala de Davis (1989) que pontua os danos de 1 a 9. Recomenda-se a avaliação visual de 10 pontos por talhão.
Fonte: Embrapa
Na soja, a técnica do pano de batida é a mais comumente utilizada, por permitir o monitoramento de mais de uma praga na mesma análise. Neste método, é analisada a presença de lagartas pequenas, médias e grande; ovos e fase adulta (mariposa), além de sua incidência (baixa, média, alta) nos diferentes pontos amostrados no talhão.
Já no algodão, o monitoramento também é visual, de acordo com a detecção dos primeiros sinais de danos no talhão, presença de posturas e lagartas. Ainda existe a possibilidade do uso de armadilhas de feromônio, que utilizam iscas específicas para captura de mariposas ou armadilhas alimentares que capturam mariposas praga que estejam presentes no cultivo.
Como controlar
Após detectada a presença da praga é necessário entrar com o controle. Para isso podem ser utilizados produtos químicos ou biológicos, além dos tratos culturais. Os produtos químicos mais utilizados são os produtos à base de diamidas, espinosinas e carbamatos, que devem ser aplicados antes que as lagartas se alojem no cartucho. Para produtos biológicos os mais recomendados são bactérias Bacillus thuringiensis, vírus do grupo Baculovirus, parasitoides do gênero Trichogramma e a conservação de inimigos naturais, como as tesourinhas (Doru luteipes) que se alimentam de ovos e pequenas lagartas da praga, controlando de forma natural.
Canibal: O hábito canibal se caracteriza por indivíduos que se alimentam da mesma especie. No caso de Spodoptera, alguns estudos mostram que este comportamento está associado a busca e competição por alimento, abrigo e sobrevivência. Ocorre durante todo o período de lagarta, principalmente depois do segundo instar.
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REFERÊNCIAS
Davis, F. M. & Williams, W. P.(1989), Methods used to screen maize for resistance and to determine mechanisms of resistance to the Southwestern cornborer and fall armyworm. In: International Symposium on Methodologies for Development Host Plant Resistance to Maize Insects,. Toward insect resistance maize for the third world. CIMMYT, México, 101-104.