O glifosato voltou a ser alvo de polêmica nas últimas semanas. Apontado como causador de câncer, o herbicida responsável por eliminar ervas daninhas nas plantações, domina mais da metade do mercado mundial de herbicidas. A atual polêmica em torno do glifosato, envolve a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), países da União Européia e Estados Unidos.
Enquanto a OMS e a FAO defendem que é “improvável” que o herbicida seja causador de câncer, a União Europeia e os Estados Unidos cogitam diminuir ou até mesmo proibir a utilização do glifosato. A polêmica tem influenciado os movimentos do mercado. A exemplo disso, a Monsanto (multinacional americana do setor de agricultura e biotecnologia) tem sido alvo de críticas devido a venda do herbicida Roundup da que tem o glifosato como princípio ativo. A empresa teve que arcar com uma queda na confiança do mercado justamente no momento em que se discutia sua compra pela alemã Bayer, numa transação que criaria o maior fornecedor de sementes e agroquímicos do mundo.
A França vai votar contra
Na última segunda feira (20), a ministra francesa de Meio Ambiente, Ségolène Royal, anunciou que a França vai votar contra a renovação da autorização do glifosato na União Europeia. A autorização desta substância ativa presente nos herbicidas mais utilizados na Europa – como o RoundUp, da Monsanto, mas também produtos da Bayer, Syngenta, BASF ou Dow Agrosciences – expira no final de junho.
Breve histórico do glifosato
O glifosato começou a ser utilizado na década de 1970, podendo ser adquirido por qualquer pessoa. Quimicamente é considerado como um herbicida não-seletivo, ou seja, mata a maioria das plantas. Antes das pesquisas relacionadas ao câncer, o herbicida era popularmente tido como uma solução segura para lavouras de milho, soja e crescimento de pasto.
Para matar as ervas daninhas e outras espécies não resistentes, o glifosato impede que a planta produza algumas proteínas fundamentais para seu crescimento, além de interromper uma importante via enzimática fundamental para a sobrevivência dos vegetais.
O que as pesquisas mostram?
Segundo Anizio Faria, professor da Universidade Federal de Uberlândia e especialista em agroquímica, os principais estudos científicos sobre o glifosato apresentam resultados conflitantes. “Em algumas pesquisas foi observado que quando administrado sob altas doses em animais de laboratório, o glifosato causou diminuição da atividade de algumas enzimas. Porém, em vários outros estudos os resultados não indicam qualquer associação do uso de produtos contendo glifosato com o câncer”.
Anizio ainda diz que as pesquisas mais recentes merecem atenção redobrada, pois indicam que os ingredientes misturados ao glifosato em herbicidas tradicionais podem ser muito mais perigosos. “Ingredientes considerados ‘inertes’, como os surfactantes, em formulações comerciais do glifosato podem amplificar efeitos tóxicos sobre células humanas, mesmo em concentrações muito mais baixos do que do próprio glifosato”.
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