Durante um tempo era a quantidade de terras que o produtor possuía que determinava sua riqueza, mas atualmente o que indica e gera mais riqueza ao produtor é a capacidade do produtor de usar bem as tecnologias agrícolas disponíveis. Essa conclusão é constatada à partir de um estudo sobre a concentração de renda agrícola feito com base nos dados do Censo de 2006.
Os pesquisadores calcularam o que chamam de “função de produção”, para saber que influência teria, separadamente, a terra, o trabalho e conjunto de insumos tecnológicos (fertilizantes, defensivos, rações, energia, máquinas, etc.), no crescimento da renda bruta dos fazendeiros e, assim, ter uma ideia sobre o que influenciou na concentração da renda bruta observada entre os agricultores brasileiros.
Foram analisadas informações de cerca de 74 mil produtores. Os resultados indicaram que para cada 100% de aumento na renda bruta, o incremento no uso de** insumos tecnológicos contribuiu com 67,86%** desse aumento da renda. O aumento de trabalho contribuiu com 22,81% e o aumento da área explorada contribuiu com apenas 9,3% para o aumento da renda.
Isso é a mesma coisa que dizer que se um produtor, que explora 10 hectares com uma renda de R$ 10 mil, resolver** dobrar** a área explorada e, em decorrência, dobrar a quantidade de trabalho, ele vai conseguir aumentar a sua renda em** apenas 32,14%** (9,3%, por conta da área, mais 22,81%, por conta do trabalho a mais), ou seja, em R$ 3.214,00.
Para** dobrar a renda**, ele terá que dobrar também quantidade de** insumos tecnológicos aplicados**, nos mesmos 10 hectares, o que aumentará sua renda em mais R$ 6.786,00, totalizando os R$ 10 mil.
Para verificar, na realidade, o que aconteceu com todos os produtores analisados, os pesquisadores calcularam o rendimento obtido em cada hectare pelos produtores, nas diferentes classes de renda, conforme a tabela abaixo. Com os dados de renda bruta das fazendas, da área explorada e do rendimento, os pesquisadores conseguiram avaliar o que contribuiu mais para a renda dos produtores, se a área explorada ou se o rendimento/uso de tecnologias.Classes slm mensalRenda bruta(rb)/estab.Rendimento(rb/ha)Área média estab.(0 a 2)1865,2268,65 (56,15)27,17 (43,85)(2 a 10)16759,51279,80 (57,92)59,90 (42,08)(10 a 200)124157,42565,05 (54,03)219,73 (45,97)Mais de 2003102871,741.592,20 (49,32)1.948,79 (50,68)
*Fonte:IBGE*
O rendimento, que é a renda bruta dividida pela área explorada em cada fazenda, é uma medida de produtividade, pois informa quantos reais cada hectare produziu. É também uma forma de sinalizar, de maneira agregada, por hectare, o nível do uso de tecnologias em várias fazendas.
Os dados da tabela mostram que o rendimento – ou seja, a produção, ou seja, o nível do uso de insumos – cresceu do grupo de produtores de menor renda mensal (de 0 a 2 salários mínimos) para o de maior renda (mais de 200 salários mínimos). A área das fazendas também cresce na mesma direção.
Os cálculos mostram que, nas três primeiras classes de renda (até 200 salários mínimos) a renda bruta/hectare (leia-se uso de tecnologias) contribuiu mais (de 54% a 57,9%) para formação da renda dos produtores do que o aumento da área explorada (de 42% a 45,97%) nas propriedades.
A última classe (mais de 200 salários mínimos) foi uma exceção, pois se alcançou o uso mais intensivo de tecnologias e a maior renda por hectare. Conseguiu-se o máximo que a tecnologia pode fazer num hectare.
Nesse caso, quando o produtor trabalha próximo do limite de produtividade da tecnologia, o aumento de mais hectares cultivados contribuiu mais (50,68%) para melhorar a renda bruta dos produtores, do que pode contribuir (49,32%) a tentativa de aumentar a já elevada produtividade de cada hectare.
Esses fatos mostram que, quando os recursos são limitados, a melhor estratégia para que os fazendeiros de menores ganhos melhorem sua renda bruta é concentrar os seus investimentos no sentido de extrair o melhor rendimento possível para cada hectare explorado.
Sendo assim, em vez de usar usar uma grande área ou toda a propriedade, eles devem estabelecer um plano gradativo de incorporação produtiva de áreas da fazenda, de maneira a extrair um alto valor de produção de cada novo hectare incorporado, seja de uma pastagem ou de uma lavoura, até completar a exploração de toda a propriedade, ao fim de vários anos.
Asim pode-se concluir que a intensidade no uso das tecnologias é mais determinante para a geração de rendas que a quantidade de terras que o produtor possui. Ou seja, se o produtor com menos terras utilizar melhor as tecnologias disponíveis, ele pode ter uma renda maior que o grande produtor. Como usar mais terras também significa usar mais trabalho, os dados sugerem que a quantidade de tecnologias usadas também é mais determinante na geração de rendas do que a quantidade de trabalho.
Os dados sugerem ainda que esse uso eficiente das tecnologias foi o que possibilitou a 500 mil produtores aumentarem suas rendas e concentrar cerca de 87% da produção e da renda bruta agrícola nacional.
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