A distribuição de pragas na lavoura nem sempre é uniforme ao longo do tempo e pela área geográfica. Isso quer dizer que algumas pragas apresentam o hábito de colonizar, inicialmente, uma certa região da lavoura para posteriormente se espalhar pelo restante. Esse padrão pode ser observado, por exemplo, na colonização do bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, em lavouras de algodão.
O bicudo-do-algodoeiro é um besouro da família Curculionidae, que tem como característica a presença de uma estrutura alongada na região anterior da cabeça, chamada de rostro. Na ponta desse rostro, encontra-se o aparelho bucal do tipo mastigador, com o qual os adultos dessa espécie são capazes de causar danos nas estruturas reprodutivas do algodoeiro.
Adulto do bicudo-do-algodoeiro com destaque para o rostro. Fonte: BugGuide.net (https://bugguide.net/node/view/230456)
Além dos danos causados pelo adulto, a fase larval também se alimenta de estruturas reprodutivas do algodão, levando ao tombamento de flores e desenvolvimento inadequado das maçãs atacadas.
Indivíduos do bicudo-do-algodoeiro nas fases de larva em maçãs, pupa em botão floral e adultos em flores do algodão. Fotos: F. H. Iost Filho.
Por ser uma espécie que se alimenta preferencialmente de plantas de algodão, o bicudo tem o hábito de se movimentar para matas adjacentes às lavouras após a colheita do algodão e permanecer ali com redução de sua atividade metabólica. Quando a nova safra de algodão é semeada e as plantas começam a se desenvolver, os adultos migram das matas para as bordas da lavoura e, dali passam a se reproduzir e colonizar o resto da área de maneira muito rápida em função da alta capacidade de reprodução e do ciclo de vida curto.
Essas características lhe conferem o status de praga de grande importância na cultura
Nesse sentido, estratégias de manejo têm sido baseadas no controle dos indivíduos migrantes. Para tanto, é necessário o monitoramento constante do perímetro (bordadura) da lavoura para identificar os pontos de chegada dos primeiros adultos. Esse monitoramento pode ser realizado até mesmo antes da semeadura para se ter uma ideia da população presente na adjacência que, possivelmente, irá migrar para a lavoura.
Para monitorar essa população antes do estabelecimento da lavoura e antes da emissão das estruturas reprodutivas do algodoeiro, a melhor ferramenta é a armadilha com feromônio. Nesse equipamento, é disposta uma pastilha com feromônio sintético que atrai os adultos do bicudo para o interior da armadilha, de onde eles não conseguem sair.
Esquema de captura do bicudo na armadilha ISCABW. Fonte: Isca (http://www.isca.com.br/produtos/p/cf355c5c-bb09-4527-a208-d76b49cf7156/armadilha-bw)
Assim, conhecendo os pontos de maior infestação, é possível direcionar aplicações de inseticidas para essas regiões e controlar de maneira mais eficaz essa população, com economia de inseticida e menores efeitos colaterais ao ambiente.
Os indivíduos que não são controlados conseguem colonizar o interior da lavoura e causar prejuízos aos produtores. O monitoramento dessas populações é baseado na observação de maçãs e botões florais atacados e, para o manejo, têm sido realizadas aplicações de inseticidas químicos em área total direcionadas às estruturas reprodutivas do algodão, onde se encontram os adultos e fases jovens. No entanto, os adultos costumam estar desabrigados, enquanto as fases jovens estão abrigadas no interior das estruturas reprodutivas, fator que diminui a eficácia do controle.
Ainda, está disponível uma outra ferramenta baseada na ação conjunta da manipulação do comportamento e do controle químico, conhecida como tubo-mata-bicudo. Esse equipamento é composto por uma haste (tubo) que tem sua base enterrada no solo e a maior parte do seu comprimento projetado para a superfície. Esse tubo tem a coloração amarela e apresenta em sua extremidade liberadores de feromônios, de modo que tanto os estímulos visuais (cor) quanto os químicos (feromônio) atrai os adultos do bicudo. Ao entrar em contato com a superfície do tubo, que é impregnada com substâncias adesivas e inseticidas químicos, os indivíduos morrem.
Recomenda-se espalhar os tubos pelo perímetro da lavoura a uma distância de 60 metros entre eles, para capturar, principalmente, os indivíduos migrantes.
Esquema de distribuição do tubo-mata-bicudo no perímetro de lavouras de algodão. Fonte: EMBRAPA
O uso conjunto de estratégias de controle químico localizado com pulverizações e com o tubo-mata-bicudo na fase inicial da lavoura tem demonstrado resultados satisfatórios no manejo do bicudo e só é possível com monitoramento constante. Para isso, as informações de amostragens devem ser armazenadas e processadas com muita atenção para permitir maior sucesso na tomada de decisão de controle.
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