O bicudo-do-algodoeiro, Anthonomus grandis, é o principal inseto praga da cultura do algodão, demandando um número alto de aplicações de inseticidas nas lavouras (em alguns casos, mais de 20 aplicações durante um ciclo da cultura). Essa prática impacta negativamente a sustentabilidade econômica e ambiental da produção e, ainda assim, são reportadas perdas de produtividade em função dos ataques dessa praga.
Para se obter maior assertividade no manejo do bicudo, é recomendada a instalação de armadilhas por todo perímetro da lavoura, nas quais estão presentes pastilhas contendo feromônio sintético que atraem os adultos, que serão capturados e contabilizados. Essas armadilhas podem ser instaladas antes mesmo da semeadura do algodão para fornecer uma ideia da densidade populacional presente na área e, permitir que o produtor planeje o número de pulverizações de inseticidas para o controle do bicudo que devem ser iniciadas, preferencialmente, a partir do início do florescimento da lavoura
Detalhe da armadilha para monitoramento do bicudo-do-algodoeiro, com grande número de adultos coletados. Foto: I. Schutze.
Com a contínua busca pela melhoria nos processos produtivos, novas tecnologias estão sendo desenvolvidas para o monitoramento e manejo do bicudo-do-algodoeiro. Uma delas consiste na utilização de uma armadilha inteligente que realiza a contagem automática dos insetos em tempo real, otimizando tempo e recursos com o monitoramento. Para tanto, o equipamento conta com ferramentas de inteligência artificial que identificam os insetos capturados na armadilha e geram informações que são enviadas para um servidor na nuvem e, posteriormente ao usuário.
Esse equipamento é muito parecido com a armadilha tradicional, com a exceção de apresentar um sensor instalado no ápice da armadilha para coletar imagens dos insetos capturados. Além disso, o equipamento conta com uma placa solar para alimentação do sistema.
Sistema inteligente de monitoramento do bicudo-do-algodoeiro. Fonte: EMBRAPA (https://www.embrapa.br/busca-de-noticias/-/noticia/72862099/equipamento-usa-inteligencia-artificial-para-monitoramento-do-bicudo-do-algodoeiro)
De acordo com os responsáveis pelo desenvolvimento dessa tecnologia, entre as principais vantagens desse sistema, se destacam o baixo custo, a facilidade de instalação e o fato de funcionar sem a necessidade de sinal telefônico ou de internet de satélite, sendo possível adaptar a qualquer ambiente.
Pensando em um sistema integrado de manejo, com a instalação de diversas armadilhas inteligentes em uma propriedade produtora de algodão, será gerada informação em tempo real sobre o fluxo populacional do bicudo em diferentes pontos da propriedade. Levando em consideração que a distribuição inicial do bicudo na lavoura tende a ser agregada antes da dispersão pela área, conhecer os locais de início da infestação permite que o produtor se antecipe no manejo dessa população que irá colonizar a lavoura. Ou seja, será possível manejar essa praga nos locais onde a colonização se inicia e evitar maiores problemas nas demais regiões da lavoura.
Para que esse sistema se complete, é necessário a utilização de ferramentas que entreguem as soluções de controle (inseticidas químicos e/ou biológicos) nos pontos de infestação. Essas ferramentas também já estão disponíveis, a exemplo de pulverizadores com controle de vazão a partir de mapas de prescrição ou, até mesmo, os drones de pulverização cuja operação também pode ser baseada em mapas que permitem a aplicação em pontos específicos da lavoura.
Dessa forma, ao se utilizar o sistema integrado automatizado de manejo do bicudo-do-algodoeiro, é possível manejar de maneira mais eficaz essa praga, considerando o controle das populações iniciais que migram para a lavoura. Ainda, uma vantagem evidente desse sistema é o menor uso de inseticidas na lavoura, com uma redução de até 50% no número de pulverizações, segundo estimativa dos pesquisadores envolvidos no desenvolvimento dessa tecnologia. Portanto, será possível gerar economia ao produtor e menores impactos negativos ao meio-ambiente.
Comments